segunda-feira, 12 de julho de 2010

Eu e minha fúria.

Eu nunca fui assim, um passeio no parque. Mas aquele dia furiosa era pouco. A minha vontade mais forte era sair mandando todas as pessoas em movimento para um inferno bem quente, varrendo o cosmo inteiro com uma vassoura de amianto. Exterminar a humanidade num golpe só para não perder muito tempo com o que, definitivamente, não era importante. Até era importante, mas não podia mais ser.
Eu que morria pedindo atenção queria a solidão elevada na mais alta potência. Na solidão ninguém ia me dizer para não sofrer, para não pirar, para não exceder de novo e cometer aqueles erros. Aqueles de sempre.

Eu passei a vida tentando baixar a bola das minhas expectativas e das minhas ansiedades e ele estava achando que podia jogar tudo pro alto e me colocar maluca só porque ele tinha O antebraço, só porque o mundo era muito mais interessante com ele falando de coisas idiotas.

Só que eu não ficava furiosa fazia tempo. E eu furiosa, chacoalhava o mundo e depois chorava de saudade, de arrependimento e de burrice natural, essa que vem acoplada com a pessoa.
Eu sou isso, uma burra por falta de opção, um excesso por falta de ausência, uma mulher por falta de ter um pinto.
Mas a verdade é que só eu sabia que minha fúria era um brigadeiro disfarçado de jiló. Ela era quase doce, mas mantinha a pose de nojenta que ninguém quer experimentar por puro medo de gostar do que é ruim mesmo.

E era em sua essência só uma dor chata e cri cri que insistia em ficar furando meu miolo só para eu não me recuperar nunca, para os dias ficarem bem cinzas e eu muito mais oca. Eu só queria exportar tudo de mim sem ter que me expor de novo. Eu e minha doce fúria precisávamos de um respiro, de uma meditação idiota, de um ENO para o alívio vir mais rápido. Só que os dias não passavam, as respostas não chegavam nunca e eu fui minguando dentro de uma cenografia de quinta categoria.

Corri para o banheiro. E a doce fúria acalmou no banho quente, nas histórias com começos parecidos, nas certezas dos 34 anos bem vividos. A cada expirada de ar forte, a segurança de que no fim fica tudo numa boa. Eu nunca fui um passeio no parque mesmo. Mas a minha fúria. Ah, a minha fúria era só meu jeito mais agressivo de dizer que estava doendo. Doendo de verdade.

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