sexta-feira, 27 de agosto de 2010

EU ME AMO OU É BATATA

Nelson Rodrigues talvez começasse esse texto assim: É batata.

Toda vez que eu sou em público, neguinho me olha de canto de olho. E aparece o balão do pensamento de quadrinhos: “Xi, hoje ela está do avesso”.
É quase estar no Guiness por correr pelada contra um tufão e ao mesmo tempo saber virar uma brisa besta que não dá nem um tostão furado de emoção para ninguém. Mas que acalma as coisas e diminui a velocidade atordoada dos dias.
É como se eu fosse um ponto final no meio de uma frase sem verbo. Completamente no lugar errado como a minha pinta no ombro. Uma desconexão confusa porque o sangue que circula é quase frio e a temperatura quando varia muito dá convulsão. E é essa epilepsia desesperada que me faz viva no meio dos dramas que eu invento só para parecer mais complexo.
A insônia suportada com mil textos, o inchaço enfrentado com rodelas de pepino frio, as histórias orientais e nababescas da Juju, o sorriso sem vergonha da Bia e o abraço cúmplice do Matheus. O Renato suportando minha personalidade.
Mundo, mundo preste bem atenção: eu só estou do avesso quando sou estável. É Batata.

Esse troço de a gente só poder ser livre na intimidade das pessoas de sempre, no saber de olho fechado o que vem depois da sobremesa e do cafezinho é quase uma camisa de força. E só poder ser livre presa me dá angústia seguida de formigamento no lábio superior.
Improvisar a vida é a melhor forma de tentar vivê-la. É batata.

Eu já tentei entrar muito fútil no shopping e nem pensar como pagar todos os meus desejos trimestrais de ser um pouco mais arrumadinha e deixar à mostra super casualmente a etiqueta da Le Lis Blanc. O bendito dinheirinho suado escorregando entre meus dedos numa pressão catártica da sociedade para eu usar um cinto com laço enorme do meio da cintura, me dividindo no meio de um jeito bizarro. Para cima do laço e para baixo do laço. Só que eu não consigo e me culpo pelas minhas fragilidades e tento aparar as minhas arestas com massa corrida. Só que o limite da força do meu pensamento é zero, mil vezes já perdi momentos preciosos do meu tempo me concentrando em um objeto que nunca veio até mim.

Meu interior tem essa mania de não me empurrar para fora de mim, espirrando com toda força num catarro nem tão gosmento e nem tão verde, para eu poder começar de novo e resgatada para sempre dos meus conceitos quadrados de não querer perder nada de mim.

É como se se eu deixasse de ser isso fosse morrer bem mais rápido. Como se o mundo pudesse não suportar o meu peso e as minhas culpas e eu fosse a exclusiva responsável pelo fim da humanidade. Ou como se eu não pudesse viver com o fato do mundo continuar sem mim e sem sentir um pinguinho de saudade. Dá azia ser isso sim.
Mas o que eu acho de tudo isso mesmo, para resumir, é que eu gosto muito de mim.
Senão eu já seria outra há muito tempo. É batata.

www.taticavalcanti.com.br

Um comentário:

  1. Pés em terra firme e coração aliviado:
    como é bom nos libertar do mar agitado!
    Encontrarmos-nos hoje é ter a certeza
    que não há tempestade que mude nossa beleza.
    Viajar sob ventos violentos, mares e tormentos,
    valerá a pena se em nosso pensamento possuir
    a infindável harmonia das cores e
    da sintonia que rege nosso sentimento!

    Vem, me dá a mão, que esse caminho é legal e,
    encontrar o arco-íris após essa chuva, é ponto vital!
    Enfrentar oceanos e muralhas se for preciso
    é o que farei pra fazer de nossa amizade o paraíso.

    Vem, confia. Que ser feliz é nosso dever na vida!
    Que nossa cumplicidade é mais que merecida!
    Que nossa amizade é mais que uma missão
    é um presente que Deus nos deu com toda sua imensidão!

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