sábado, 15 de maio de 2010

AQUELA NOITE

Tinha sido um dia estranho e eu sou resistente com dias estranhos, com sentimentos estranhos e com coisas estranhas. Eu tomei banho mais quente. Eu queria calor na proporção em que eu queria atenção.

Eu achei que ele ia dizer qualquer coisa que eu queria ouvir e ele disse que eu queria atenção. Só faltou dizer para eu me vestir de cachorro quente e sair correndo na Paulista. Era estranho. Aquela noite eu queria um cafuné inocente mesmo que depois eu fosse tomada pelo capeta e fizesse com ele a maior e melhor sacanagem do Universo. Mesmo que o mundo precisasse de nós para sobreviver, naqueles segundos eu só queria sentir o cheiro dele numa respirada funda e longa que acalmasse minhas células nervosas. E fazer sair tudo no xixi. E eu ser muito melhor e um milhão de vezes mais corajosa. Mesmo que a coragem fosse para nada acontecer.
Eu tinha tomado mais coca cola que o normal e tinha azedado. E tinha comido uma quantidade de amendoim suficiente para deixar qualquer mulher burra. Burra de tanto amendoim no intestino.

Eu queria um tom mais grave para explicar dessa urgência. Para desacelerar essa pressa em viver, eu queria dançar de rostinho colado só mais uma vez antes de o dia levar tudo embora. A gente sempre cai na real por mais que a fantasia insista em se disfarçar de abajur lilás e de coração rosinha bebê. Como se o Universo só respirasse para que o nosso “sei lá o quê” não parasse nunca de crescer e, para nada que fosse além, fosse importante.

Aquela noite eu não chorei, mas tinha um buraco no meio da minha alma. E que tinha perfurado minha vida em definitivo. Minha existência nem sabia se queria continuar existindo. Eu não chorei, mas meu olho estava seco. Grudado. Aquela noite eu achei que ele ia dizer que queria naquele segundo, mas não. Ele não disse nada que me importasse. Nada para eu abrir minha boca torta em nome de porra nenhuma. Como se o mundo fosse só aquele encontro e eu pudesse ser imatura e idiota por umas horas. Aquela noite eu era a mais solitária mulher do cosmo. Com uma espinha enorme na testa e moída por um trator a serviço da vida, que dá voltas e pára sempre no mesmo lugar. Ele foi embora com aquele papo estúpido de que eu sou mimada e preciso de atenção tanto quanto preciso de soro para ver se passa essa vontade imensa.
Aquela noite eu queria ele, o colo dele e o mundo dele, o cheiro dele, a conversa fiada dele. A sem vergonhice dele. Aquela noite eu queria que ele fosse meu brinquedo mais caro e delicado, queria que ele dissesse que era paixão mesmo sabendo que era só uma mentira.
Mas não. Tudo que aconteceu naquela noite foi ele me dizer de novo e de novo que eu sou humana, que eu tenho que respirar e que óbvio, eu preciso muito de atenção.

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