quinta-feira, 20 de maio de 2010

AQUELA TARDE INSEGURA

Uma tarde ele quis me deixar insegura. E me lembro que eu não soube o que fazer. E também de ter sentido parte do chão abrir e de um gosto azedo ter descido quadrado para dentro de mim.

Ele sabia, ia me doer mesmo que eu estivesse sufocando de falta de razão. Eu nunca fui de ter razão mesmo. Mas ele decidiu que não importava se doesse. Mesmo que fosse só uma dorzinha muscular.
Eu gelei no meu excesso absoluto e tive vontade de deixar o nó desatar antes da última apertadinha, aquela que faz o nó firme. Leões inseguros ficam desconfortáveis.

Eu prometi que não ia chorar porque não tinha sentido. Aquilo estava ficando demodé. Só que de novo eu chorei, só pra borrar o resto do rímel do dia anterior.
Não ter razão dá nisso. Eu tive uma vontade absurda de guardá-lo dentro da gaveta da minha caixinha de jóias, com a bailarina em cima. Para ele não poder sair dali sem que fosse só para mim, para me fazer rodopiar segura e não me cambalear.

E eu lembro que eu não fiz nada porque eu não queria que ele soubesse. Ele já sabia demais, não precisava ter certeza absoluta.

Aquela tarde ele me quis insegura porque queria que eu dissesse o que eu não disse.
E para isso ele usou uma bala que só ardia. Que doía em pequenos instantes que, juntos, somariam outra noite sem dormir. Ele fez de carente, para chamar minha atenção, para gritar que estava puto comigo, mesmo o puto dele sendo bem suave. Mesmo que ele estivesse só pedindo para eu não andar na contramão da nossa trilha.

Aquela tarde ele quis me deixar insegura.
Eu só não entendi porque se ele sabia de tudo e tão bem.

5 comentários:

  1. Forte...muito forte! narrativa que lembra "Sin City", filme neo-noir...

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  2. Mas e que vc.. vc e foda, Lu!!!
    Adoro!

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  3. Uma narrativa tão intensa e profunda como a própria autora.
    Parabéns como sempre pelas tão efusivas palavras.
    Beijo,
    Dani

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  4. Voces, lindinhas, sabem das coisas...

    Só acho que vcs não estão prestigiando meu boteco, não aparecem mais pra tomar uma geladinha...
    Estou esperando por "usteds"...

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