domingo, 27 de junho de 2010

NEGÓCIOS DA VIDA

O meu negócio era ganhar o mundo escrevendo, chorando as pitangas e sendo feliz no intervalo entre essas três coisas. Só que no meio dos meus planos eu encontrei outras atividades que me interessaram muito.

E quando eu vi, eu adorava me apaixonar mesmo que o fogo apagasse logo. Mesmo que fosse para jogar o certo para o alto mais alto do mundo e abraçar o incerto com todo o amor que eu queria que fosse eterno. Depois eu aprendi que amar era outra atividade ótima, mas amar desgastava de um jeito que não sobrava energia nem para beber água. E eu esgotada viro uma criatura inerte inclusive nos pensamentos. Só que para amar, era preciso tanto talento que eu fui lá e desenvolvi só para ver se eu era capaz. E virei PHD.

E o meu negócio que era ganhar o mundo escrevendo, chorando as pitangas e sendo feliz no intervalo entre as três coisas, aumentou. O horizonte me abriu um leque de mil lindas possibilidades e eu me encantei. Me encantei porque achei um barato aquele negócio todo de viver com emoção. E a emoção podia ser só um arroto alto e de boca aberta depois do almoço, com todo mundo sentado. Ou podia ser pular de bung jump no meio do nada. Ou abraçar a causa de um novo amor. Ou só ser do contra com o único objetivo de não ser a favor.

Então eu precisava de tempo para escrever, chorar, ser feliz, amar de todas as formas possíveis e me apaixonar. O tempo ficou curto, mas a vida ficou mais cheia de coisas para sonhar e frustrar e aprender. E arrotar, óbvio. Mesmo que eu, para aprender, precisasse sempre tomar umas porradas na cara. E para arrotar só precisasse de meio gole de guaraná. Espremi o tempo, rearranjei daqui, apertei dali e mais um pouco o tempo inteiro era insuficiente para todas as bexigas de coração, para todas as cenas mexicanas, para todos os bung jumps e para todas as vezes em que eu precisava chorar para eles me olharem com uma piedade que estranhamente me satisfazia.

Tinha virado vício incontrolável. Era mais forte que eu aquele negócio de viver. Eu tomava banho naquilo, eu comia naquilo, eu hidratava naquilo. Era quase um toc sem cura, um tic dramático que não me deixava descansar nunca, para não desperdiçar o precioso tempo que era sempre ralo.
E o tal do meu negócio que era ganhar o mundo escrevendo, chorando, sendo feliz, amando e me apaixonando, faliu. Era muita coisa para pouca vida. Não tinha jeito de caber em 24 horas ou em 365 dias ou em três décadas. Não cabia, era sempre mais apertado que as meninas inocentes.
E foi aí que eu abandonei todo o resto. E o meu negócio passou a ser só viver.
Eu vivo cansada, é verdade.
Mas pelo menos eu vou morrer bem viva. Vivinha da Silva.

http://www.taticavalcanti.com.br/

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