domingo, 27 de setembro de 2009

Filho, árvore, livro...Amor!!!

Post doado por Inagaki/Apóie a Doação de Órgãos e Tecidos.

Joseph Campbell, em um trecho de “O Poder do Mito”, afirma: “A vida é dor; e o amor, por ser a mais intensa manifestação da vida, é responsável por nossas maiores alegrias e tristezas”. Não posso tirar essa definição da cabeça quando penso nas famílias que, ao sabem que um parente querido já não está mais neste mundo, consentem que seus órgãos sejam destinados a outras pessoas que necessitam deles.

Haverá um dia em que não estarei mais neste mundo. Não terei a oportunidade de ver as cores se digladiando no céu de um pôr-de-sol. De sentir o frescor de uma brisa no rosto, de ganhar horas conversando com amigos sobre a Vida, o Universo e Tudo Mais, de ter o coração aquecido com a visão de um sorriso de mulher. Ao menos não neste corpo físico. Pensando sobre essas questões, uma pergunta me veio à cabeça: qual é o legado que deixaremos a este mundo? Há quem não dê a mínima, há que ache que sua permanência neste mundo será naturalmente continuada por seus filhos, há quem sonhe em perpetuar seu nome em uma praça, uma rua, um parque. Carlos Drummond de Andrade, em um soneto sobre essa questão, escreveu em um arroubo de humildade: “De tudo quanto foi meu passo caprichoso na vida, restará, pois o resto se esfuma, uma pedra que havia em meio do caminho.”

É inevitável recordar o chavão de que uma pessoa totalmente realizada é aquela que teve um filho, plantou uma árvore e escreveu um livro. Notem: são três atos que simbolicamente transcenderiam as limitações da minha existência física. Um filho asseguraria a transmissão de meus genes. Com uma árvore, perpetuo a vida em si mesma. E o livro garantiria a permanência de meus pensamentos. Mas tudo isso na teoria, é claro. Nada garante que meu rebento não poderia se tornar um misantropo egoísta e apolítico, que a tal árvore não tombaria no cocoruto de um desavisado ou que meu futuro romance não desembocaria num balcão empoeirado de encalhes. Recordo a excelente paráfrase de Stanislaw Ponte Preta sobre o assunto: “Tinha um filho, plantou uma árvore, o filho trepou na árvore, caiu e morreu. Só lhe restou escrever um livro sobre isso”.

Porém, à equação filho/árvore/livro acrescento um novo elemento, tão significativo quanto os anteriores: a doação de órgãos. É um gesto simples, mas capaz de salvar a vida de outras pessoas: basta avisar os seus pais, irmãos, esposa ou companheiro que você deseja que seus órgãos sejam destinados para doação. Uma atitude de amor, talvez a maior transcendência que podemos almejar neste mundo doido e por vezes sem sentido. E um ato heróico, no sentido cunhado por Campbell no livro que citei no primeiro parágrafo deste post, por ser capaz de salvar outras vidas.

Tenho poucas certezas nesta vida, mas uma delas é esta: amor é presença perene no coração. Porque há ocasiões em que dói, como se o coração fosse comprimido pela mão da ausência. Porém, penso que o amor será, sempre, um acalanto; a certeza de que existe alguma coisa além da fugacidade deste mundo, que seja capaz de perpassar o pó do qual viemos e ao qual voltaremos. O amor é chama que se retroalimenta. Pois as pessoas que amamos permanecem em nossas lembranças. E, a cada instante em que evocamos um certo sorriso, um gesto de carinho ou o gosto ensolarado de uma tarde compartilhada de felicidade, elas tornam-se mais vivas ainda dentro de nós.

Amar é estender a mão aos que precisam. E falar de amor, para mim, é recordar a lição irretocável dos Beatles: “And in the end/ The love you take/ Is equal to the love you make”. Lembrando que, para cada fim, há também um recomeço.
(reprodução)

2 comentários:

  1. Perdi meu pai por falta de doador de rim e pancreas, infelizmente nem eu e nem meu irmão pudemos ser doadores.
    A fila para transplante é muito longa e sofrida para a pessoa que precisa e também para os familiares.

    Quem pode doar é simplesmente iluminado , portanto não deixem essa luz apagar.

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